segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Imagens de mulheres musculosas

Uma das razões pelas quais mulheres que praticam halterofilismo são injustamente acusadas de usar esteroides ou outras drogas de crescimento é que muitas pessoas estão tão investidas na crença comum que uma mulher simplesmente não pode ficar tão musculosa sem ajuda artificial.

É uma tática psicológica e social pela qual alguém pode rejeitar mulheres muito musculosas como não-naturais ou esquisitas. Tal rejeição, por outro lado, permite às pessoas que mantenham sua fé em imagens essenciais de como uma mulher deveria se parecer e do que uma mulher deveria ser: talvez Gisele Bündchen, talvez a mãe da pessoa, talvez a garota ao lado, mas definitivamente Bev Francis ou Paula Birkenshaw.

Da minha perspectiva psicanalítica cultural, tais imagens mantêm certo sistema normativo cultural de diferença sexual. E o entendimento básico de muitas pessoas sobre si mesmas – seus egos, suas identidades sexuais, suas orientações sexuais, seu senso de si mesmos como atraentes, desejáveis ou amáveis, seus status como membros atuantes de um grupo ou classe social – depende pesadamente fortemente desse sistema.

Em outras palavras: porque suas próprias psiques (sociais) estão em risco, muitas pessoas são extremamente relutantes, em níveis conscientes e inconscientes, em aceitar halterofilistas femininas muito musculosas como mulheres “reais”. Bill Dobbins, na introdução de seu livro, “The Women”, conta uma anedota reveladora sobre o balconista na loja de quadros local, que se sentiu obrigada a dizer que ela enojada pelas fotos de mulheres halterofilistas que ele tinha entregue para serem enquadradas, apesar de ela querer muito mantê-lo como cliente. Tal rejeição evidencia uma motivação profunda e muito forte a resistir o corpo musculoso. Tachar halterofilistas de usuários de drogas é um modo conveniente e popular de rejeitar esse corpo.

Claro, imagens normativas de feminilidade exemplar (Crawford, a mãe, etc.) e o sistema de diferença sexual não são naturais, nem dadas por Deus. Elas são, ao contrário, a acumulação histórica do costume, preconceito, precedente e poder.

Mulheres halterofilistas são, portanto, figuras muito importantes num sentido sócio-político – embora poucas provavelmente se articulariam como tal. Elas fornecem imagens e exemplares de uma nova imagem poderosa de feminilidade possível, que pode tanto transtornar como transformar a visão e o entendimento cultural sobre o que sexo e gênero e individualidade representam.

Acusações de abuso de esteróides são apenas evidências de como essa cultura está vagamente consciente de que aspectos fundamentais de si mesma estão à beira de mudança crítica e que mulheres halterofilistas são agentes cruciais dessa mudança.

Esse artigo foi publicado no dia 22 de setembro de 2012 no jornal "Voz da Terra", de Assis (SP).

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