Josef Mengele viveu em Assis (SP) em 1970

"O ex-oficial nazista Josef Mengele efetivamente viveu em Assis, na Casa das Crianças 'Dom Antônio dos Santos', onde trabalhou como jardineiro no primeiro semestre de 1970". A afirmação foi publicada na primeira página do jornal "Voz da Terra", na edição de 22 de junho de 1985, e é atribuída ao delegado Gurgel, da Polícia Federal, regional de Presidente Prudente, que esteve em Assis dois dias antes, fazendo investigações a pedido do então delegado superintendente da Polícia Federal, Romeu Tuma. Segundo o jornal, o delegado havia retornado a Presidente Prudente na manhã de sexta-feira, dia 21, e enviado a São Paulo o relatório sobre a investigação realizada em Assis, junto a Irene Ribeiro Salotti e a freira Georgette Brodnyansky.

Irene Ribeiro Salotti, em foto tirada
por mim em sua casa, quando fui
entrevistá-la

O delegado federal Gurgel informou ao jornal assisense por telefone que foram exibidas fotografias de Mengele a Irene Salotti e irmã Georgette, que convictas afirmaram ser ele o jardineiro que trabalhou na entidade no início de 1970 por cerca de cinco meses. Gurgel disse que esteve em Assis apenas para obter a confirmação das duas testemunhas, que afirmaram ser Josef Mengele e "Pedro" (um andarilho que chegou à Casa das Crianças pedindo abrigo) a mesma pessoa. Ele informou ainda que o ex-oficial nazista provavelmente viveu em outros locais próximos a Assis, possivelmente antes de ter sido acolhido na Casa das Crianças.

A presidente da entidade, Irene Ribeiro Salotti, também confirmou ao "Voz da Terra" que "seu Pedro" era mesmo o criminoso nazista Josef Mengele, pois ela reconheceu o jardineiro nas fotos que lhe foram apresentadas pelo delegado da Polícia Federal. Irene disse que os agentes da PF chegaram à sua casa na tarde do dia 20 de junho de 1985, onde ficaram, até o início da noite, fazendo perguntas sobre o jardineiro que trabalhou na Casa das Crianças no primeiro semestre de 1970. Ela contou aos policiais o mesmo que já havia revelado à imprensa no dia anterior. Irene também informou que, no início da noite, ela e o delegado se dirigiram ao Asilo de Vellhos São Vicente de Paulo, pois as investigações dos federais deveriam prosseguir com a irmã Georgette Brodnyansky, que acolheu o oficial nazista na Casa da Criança em 1970. As fotos de Mengele também foram exibidas à religiosa, que segundo Irene Salotti, imediatamente reconheceu como sendo "seu Pedro", o jardineiro.

Laurinda de Lima Santos, em foto tirada
por mim em sua casa, quando fui
entrevistá-la

Zeladora lembra-se do jardineiro – Laurinda de Lima Santos, 46 anos, zeladora da Casa da Criança em 1970, contou ao jornal ter conhecido o jardineiro conhecido como "Pedro", que durante algum tempo prestou serviços à entidade. Laurinda era cozinheira do Asilo São Vicente de Paulo em 1985 e lembra que, em 1970, "seu Pedro" chegou à Casa da Criança como um "andante".

A zeladora lembrou que foram poucas as vezes que conversou com "seu Pedro", pois "ele conversava mais com a irmã Georgette num idioma que eu não entendia", disse. Laurinda lembrou que o jardineiro era uma pessoa inteligente, pois em pouco tempo reorganizou toda a despensa que existia na cozinha da Casa da Criança, instalando prateleiras e armários, sendo que "tudo ficou muito bonito", ressaltou.

Laurinda de Lima explicou não se lembrar de algum sinal particular do jardineiro ou de hábitos que ele possuía, pois o pouco de convivência, cerca de cinco meses, não foi o suficiente para tais observações. Entretanto, ela revelou que algumas fotos de Josef Mengele publicadas em jornais e revistas nos dias anteriores à publicação da reportagem em "Voz da Terra" são idênticas ao jardineiro "Pedro", não existindo dúvidas de que o ex-oficial nazista e o ex-jardineiro são a mesma pessoa.